Quinquagésima postagem:
Pois é. Postagem sem título, sem menção à banda e sem nome do álbum. Apenas com essas dicas já dá pra entender do que estamos falando aqui. Hoje é dia de Led Zeppelin, aliás, do quarto álbum do Led Zeppelin. Caso esteja se perguntando o motivo de eu não ter escrito do que se tratava, explico. Quis manter nessa postagem especial a mesma ideia que a banda teve nesse álbum. Lançado em 1971, não há nome da banda ou do álbum na capa ou contra-capa que identifique do que se trata. Apenas a imagem de um homem velho carregando uns galhos. Apenas no encarte temos uma dica do que temos diante de nós. Ele contém a letra de Stairway to heaven e os símbolos que representavam cada integrante da banda. Sobre os símbolos, sabemos que John Paul Jones e John Bonham inspiraram-se no livro "The book os signs" de Rudolph Jones. O círculo com 3 partes iguais é do John Paul Jones e representa o homem, a confiança e a competência. Já o John Bonham representa uma tríade familiar: pai, mãe e o filho. ZoSo é o Jimmy Page e ele fala que é apenas pra mostrar que está protegido. Algumas teorias dizem que essa simbologia representa Saturno, pois o símbolo possui representações de Saturno, Júpiter e Marte. Já o último símbolo é a pena de Ma´at, deus egípcia da justiça. Robert Plant a escolheu porque ele é o escritor e a pena está relacionada à escrita. Veja que já tem texto e nem começamos a falar sobre o álbum. Led Zeppelin seria o maior quarteto da história da música, não fossem os Beatles terem aparecido bem antes. Sem exageros, quem não conseguir comprar esse, pode comprar o também icônico "The sun remains the same" e irá entender do que se trata o Led Zeppelin. Aproveito para justificar porque o texto não é sobre o "The song remains the same". Este é um show e funciona como coletânea, mas recomendo que vejam o show, porcamente traduzido em português como "rock é rock mesmo". Vamos ao álbum?
01. Black dog.
Não esperem uma letra falando sobre um cachorro. A banda gravou esse álbum em um casarão em Headley Grange pois no estúdio da Island as coisas não estavam fluindo. Aproveitaram o estúdio móvel dos Rolling Stones e foram ao interior gravar em paz. Havia um labrador rondando o local e era alimentado pela banda. Quando a música estava pronta mas sem título, sugeriram colocar o nome do cachorro negro que rondava o lugar. Possui uma ótima frase pra iniciar um álbum: "hey mama, the way you move, gonna make you sweat, gonna make you groove". É uma mulher que está apenas se aproveitando dele e ele ainda espera que uma menina mais, digamos, correta aproxime-se dele. Mas o balançado mexe com ele. Letra simples para a complexidade musical. Aliás, no início da faixa não estranhe. Tem um barulhinho antes do Robert Plant começar a cantar. É o Jimmy Page esquentando as guitarras. Vem pancada pela frente. Outra curiosidade: Como a música é parada para o vocal do Robert Plant, dá pra ouvir as pancadas do Bonham para marcar o tempo para tocar novamente. Última curiosidade: O tempo da bateria e da guitarra são diferentes, o que dá a impressão de descompasso. Tudo pensado para que não fosse uma música dançante.
02. Rock and roll.
Faz tempo que não curtimos um bom rock and roll. Estava a banda em seu estúdio, trabalhando em uma faixa e as coisas não fluíam. Então Bonham (melhor baterista de todos os tempos) começa a tocar "Keep a knocking" do Little Richard. Os demais integrantes ouvem aquilo e Jimmy Page pega a guitarra e começa a tocar. Depois disso, Jones (belo baixista) começa e por fim, Plant decide escrever uma letra para combinar com a música. Assim nasce essa faixa. Aliás, tempo de 30 minutos e tudo estava pronto. Queria que meu tempo de ócio ou raiva fosse transformado em algo tão produtivo assim. Essa faixa aparece no Live Aid em 1985, primeira reunião da banda após a morte do Bonham em 1980. Phil Collins toca a bateria do Led Zeppelin nessa oportunidade. Depois disso a música foi tocada pela banda apenas em apresentações especiais e nessas outras, sempre com o filho do Bonham na bateria. Por falar em Little Richard (pianista roqueiro louco), já um piano na faixa. É tocado pelo Nicky Hopkins, que já havia tocado com Rolling Stones, The Who e The Beatles.
03. The battle of evermore.
Temos aqui a faixa mitológica do álbum. Evermore tem como base a mitologia Celta, já comentada em outra postagem. As guerras ocorridas durante os séculos XV e XVI serviram de inspiração para Robert Plant escrever a letra e mostrar a batalha entre o lado da luz e o da escuridão. A rainha de luz que aparece na faixa terá mais destaque na próxima, mas pelo menos já se tem a introdução dela aqui. Detalhe importante é a única participação de outra pessoa cantando em um álbum do Led Zeppelin. A convidada foi Sandy Denny. Ela representa o choro do povo enquanto Plant narra a história. Faixa tocada com um bandolim. O instrumento estava abandonado na casa e o Page começou a brincar com ele. Aprendeu a técnica e a usou na gravação da faixa. Ele estava sentando tocando, Robert Plant chegou, ouviu e começou a cantar uma história. Depois foi apenas registrar a letra. Nessa época o Plant estava lendo muito sobre mitologia, por isso a história saiu tão facilmente. A letra é uma linda narrativa. Fica a sugestão. Não é um "rock and roll". É mais um folk.
04. Stairway to heaven.
Faixa complicada para escrever sobre. Para muitos, a melhor faixa do Led Zeppelin. Para outros, a melhor faixa de todos os tempos. Mas apenas o Led Zeppelin poderia ter uma faixa assim e ainda deixar a dúvida para os fãs sobre qual a melhor. Particularmente, tem 2 músicas que gosto mais. Mas claro que isso não tira o fato de ser a música mais conhecida do Led Zeppelin. E é linda, convenhamos. Coisas interessantes sobre a faixa: 1. Você não escreve uma música de 8 minutos para tocar em rádios. Comercialmente impossível. Somando ao álbum sem nome, temos audácia; 2. Quem escreveu? Talvez o Robert Plant. Ele já explicou que estava sentado, de mau humor e de repente o lápis começou a escrever "there´s a lady who´s sure all that glitters is gold and she´s buying a stairway to heaven". A partir daí, veio o resto da letra; 3. É a única letra que está no encarte desse álbum (super comercial não é?); 4. Não é a faixa favorita do Robert Plant (Kashimir é) mas é a favorita do resto da banda. E o que é Stairway to heaven? Nem o Robert Plant sabe. Ele conta que dependendo da forma como acorde, se ouvir a música dará a ela uma nova interpretação. Se ele não explica, não me atreverei. O que temos é alguém (a mulher) que acredita que tudo que reluz é ouro e com isso, comprará uma escadaria para o céu. Mas ao longo da faixa percebemos que a vida nos oferece sempre 2 caminhos e devemos escolher qual deles iremos percorrer. Usarei o que o Robert Plant fala em "The song remains the same": "Essa é uma canção sobre esperança". Faixa que não deve ser interpretada. Deve ser sentida.
05. Misty mountain hop.
Ainda há vida após a faixa anterior? Stairway deveria ser a última faixa desse álbum, pois é difícil seguir adiante depois de tudo aquilo. Mas ela não é e vamos adiante. Esse início com teclado estilo The Doors é ótimo e a letra até combinaria com eles, exceto pelo título que referencia a obra do J.R.R. Tolkien (Robert Plant é um grande fã). Essas montanhas ficam no País de Gales. A letra fala sobre um grupo de jovens (hippies) que estavam se divertindo e de repente, chega a polícia pra acabar com a festa. Isso era bastante comum na Inglaterra nos anos 70. O "Big Brother" (modo como a polícia era chamada) sempre estava de olho. Então o lance era curtir a vida e viajar, rumo à essa montanha nebulosa (que poderia existir apenas na fumaça produzida pela erva consumida). Interessante como muitas bandas dos anos 70 fazem referências ao uso de drogas (realidade que começava a ser cotidiana naquela época).
06. Four sticks.
Já inicio com uma curiosidade: a faixa ganhou esse nome só porque o baterista estava tocando com 4 baquetas (2 em cada mão). Essa foi uma das faixas mais complicadas por vários motivos: 1. Bonham só gravou a parte da bateria 2 vezes porque não conseguia fazer mais do que isso; 2. A letra estava pronta antes da banda ir para a casa gravar o álbum; 3. Sintetizadores e a mixagem da voz só puderam ser feitas em Londres. Então temos uma faixa com influência Hindu e praticamente impossível de ser repetida ao vivo. Uma extravagância, se não fosse o Led Zeppelin. Sobre a faixa. Temos alguém que o faz mal e de quem ele quer separar-se (já vimos isso aqui). Esse rio de emoções que o cerca o deixa confuso, até por ter experimentado esse amor até o fim do arco-íris, mas não ficando satisfeito com o pote de ouro que encontrou. Sendo assim, melhor deixar tudo pra trás e começar uma nova vida. Deixar essa presença dela secar nele. Gosto dessa referência ao rio enquanto sendo a mulher que cerca os pensamentos dele e que para que isso passe, o rio deve secar. Muito bom. Mas ainda estou pensando no cara tocando com 4 baquetas... Como se consegue ritmo assim? 2 batidas simultâneas... Genial.
07. Going to Califórnia.
Hora da balada. Depois de decidir deixar a mulher que faz tanto mal (ele cita isso no início desta quando fala que ela fumou e bebeu tudo que era dele), ele vai à Califórnia. Procurando pela mulher que será a certa para a vida dele (já vimos isso aqui também). Todas as referências das faixas anteriores estão aqui. O rio vermelho, o céu cinzento, as incertezas (2 caminhos), as montanhas que se movem enquanto os filhos do sol começam a acordar. Tudo isso apareceu nas faixas anteriores. E tudo isso para que ele encontre sua rainha. A rainha que ainda está sem rei. Mesmo que pareça que ela ainda nem nasceu ou que ela está no topo de uma montanha enquanto ele está na base, nada deve ser tão difícil assim. Ele está na Califórnia em busca de seus sonhos. Bem, não deixa de ser uma faixa sobre esperança também.
08. Where the leeve breaks.
Pela gaita percebe-se que teremos algo diferente. Bem, essa faixa é complicada de explicar. Além do nome dos quatro integrantes da banda, há o nome de Memphis Minnie McCoy. Ela era uma artista de blues e escreveu a letra da música. Tá. Então é uma regravação? Sim e não. A letra baseia-se na original mas há trechos diferentes. E do que estamos falando? A letra fala sobre a grande enchente do Mississípi em 1927. Essa enchente devastou diversas casas e plantações, fazendo com que as pessoas abandonassem o estado em busca de trabalho em outras regiões dos EUA. Isso contribuiu para a migração de afro-americanos nessa época. 13 mil pessoas tiveram que abandonar suas casas e isso aparece bem retratado na faixa inteira. Essa não necessita de maiores explicações. Claro que fica a sugestão, até para conhecer mais sobre essa enchente.