Quadragésima sexta postagem: Jagged little pill - Alanis Morissette.
Seguindo em nossa contagem regressiva, rumo ao número 52, faremos uma parada no Canadá para ouvirmos o Jagged Little Pill em sua versão acústica. Por isso não estranhem a arte da capa. Esse é o mesmo álbum, apenas com roupagem mais leve. Uma vez que a intenção é destacar as letras, este é uma boa pedida. Sem mais delongas, vamos direto ao álbum.
01. All I really want.
Para abrir o álbum, uma música que fala sobre a busca por alguém que a compreenda. A pessoa está com alguém mas esse alguém não é "a outra metade". Temos uma mulher com toda sua energia, ansiando por fazer várias coisas, com seus medos, e nenhum parceiro. E no fundo a música fala que ela só queria um lugar melhor para eles dois. A frustração aparece durante a faixa inteira, seja com seu companheiro, seja com o mundo em si. A medida em que a faixa avança, ela lamenta não poder encontrar com o Criador, percebe que o tempo está passando e ela não pode desperdiçá-lo. E quando ela quer saber sobre o parceiro, apenas o silêncio aparece. São pessoas em sintonias diferentes. Temos uma referência literária aqui: ao aparecer na letra "I´m like Stella", temos uma citação de uma personagem de um livro chamado "great expectations" do Charles Dickens. Era uma menina por quem o protagonista Pip era apaixonado mas ela não conseguia corresponder esse amor. Para quem quiser ver uma adaptação, Southpark fez isso no episódio 40 da quarta temporada.
02. You oughta know.
Essa aqui é uma faixa de desabafo. Esqueçam músicas que falam sobre mulheres fracas ou que precisem que um homem escreva como uma mulher se sente. Aqui tem tudo isso. Após ser trocada por outra, Alanis Morissette desabafou nessa faixa. Partes favoritas? Sim. Ela foi trocada por uma mulher mais velha, uma versão "mais madura" dela. Embora ela comece falando que está tudo bem e que deseja tudo de bom para o novo casal, ela pergunta se essa outra mulher é pervertida como ela, se "vai lá embaixo" no cinema, e se o cara pensa nela enquanto transa com a outra. Porque ela lembra que cada vez que ela arranhar as costas de outro homem, que ele sinta. Para lembrar do que ele deixou pra trás. Muitas parte favoritas. Gosto dessa letra. Sem frescuras e direto ao ponto. Não é todo dia que ouvimos "fuck" sem censura e bem contextualizada.
03. Perfect.
Depois do desabafo, segue a vida. Lindo início de faixa. Boa música para tentar explicar como é a relação entre pais e filhos. Claro que é uma relação difícil e cheia de nuances. Mas está longe de ser uma relação perfeita. O desejo de que os filhos devem ser melhores do que os pais, de que não devem passar pelo que os pais passaram, fazem com que a exigência cresça. A faixa é sobre isso. Enquanto você for perfeito, terá o meu amor. Se você é meu reflexo, seu sucesso é meu sucesso (isso parece muito com o texto que aparece nos filmes do Super-homem quando há esse diálogo, nos filmes de 1978 e no de 2006), então, sempre iremos te amar, desde que você seja exemplar. Hum... não consigo parar de pensar como essa faixa poderia ser mudada para "se você fosse como o filho de". Segue a vida...
04. Hand in my pocket.
Essa faixa é uma forma de ver a vida. Nem sei se tem outra. Independente das coisas que aconteçam, sempre acreditamos que no fim, tudo dará certo. Mesmo quando achamos que trabalhamos muito, que estamos cansados, que erramos muito.... algo nos motiva a achar que tudo compensa, que tudo isso vale a pena. Faixa simples e que tem um detalhe que gosto muito. Enquanto uma mão sempre está no bolso, a outra sempre faz algo mais descontraído, como segurar um cigarro, dar um "toque 5", fazendo o sinal de paz... É a dualidade que rege nossa cabeça em todos os momentos. Deu até vontade de digitar com uma mão apenas.
05. Right through You.
Faixa que continua o desabafo de "You oughta know". Ela percebe como perdeu tempo com esse cara (mais velho) na ilusão de que ele, pela sua experiência, a trataria como mulher e não como uma adolescente. A letra mostra toda a frustração dela ao ver que ele olhava para o bumbum firme dela, como a levava para tomar vinho (cara, isso é muito coisa de adulto) e de como ele fazia 69 com ela (nada como depois de um fuck, um 69 nas letras) mas não ouvia uma palavra do que ela dizia. Aliás, a procura de uma pessoa que ouça o que ela tem a dizer já foi citada em outra música. Diferença entre You oughta know e essa faixa é o tom. A primeira, traz raiva. Essa, frustração.
06. Forgiven.
Aqui temos um momento de culpa (algo realmente cristão). Não fica claro o motivo da culpa (podem ser causados pela relação das faixas anteriores) mas a letra fala que não há prazer sem culpa. E que para que essa culpa se vá, ela deve confessar seus pecados e arrepender-se. Ela faz uma comparação justa. Os irmão dela não foram considerados culpados pelos pecados mas ela, certamente será. Ainda há reflexos dessa forma de enxergar coisas que homens podem mas mulheres não. Mais uma boa faixa reflexiva nesse álbum.
07. You learn.
Mal termino de comentar sobre faixas reflexivas e vem a maior delas. Essa fala sobre como devemos experimentar todas as sensações possíveis, pois a partir delas, iremos aprender a viver. Algumas coisas são mais difíceis de serem engolidas (jagged little pill) mas nada que não seja deixado pra lá quando a poeira sentar. Mesmo com as regras sociais, as vezes é bom fazer mais do que deveria fazer e falar mais do que deveria falar. São experiências e farão com que aprenda o motivo das regras, o porque de termos que obedecê-las. Boa faixa.
08. Head over feet.
Chegamos ao ponto. Já imaginou se apaixonar pelo seu melhor amigo? E já imaginou se essa paixão for correspondida? É isso que temos aqui (não necessariamente aqui). Tivemos um álbum onde ela procura por alguém que a ouça, que a conheça, que se importe com ela e não com atributos físicos dela. Que a veja como mulher e não como um objeto ou uma adolescente vazia. Aqui ela encontra alguém que quer saber como foi o dia dela, que é companheiro em todos os momentos. Ela observa que ele não deveria se assustar por ela se apaixonar por ele, é tudo culpa dele (as vezes isso é lembrado logo pela manhã). Linda confissão quando ela diz que ele é o melhor amigo dela, amigo colorido, e porque ela demorou tanto para que as coisas acontecessem? Ela nunca se sentiu tão bem com alguém e essa relação não deveria ser algo racional, algo que pudesse ser explicado. É uma relação onde não há mais necessidade de se falar o que se sente, pois isso está explícito. Independente do tempo que leve, a ligação sempre será forte (isso realmente não é racional, e quem se importa?). Nós já nos conquistamos, independente de nossa vontade. Não há como resistir. Isso é culpa nossa. E esse foi o texto mais fácil de escrever dentro desse álbum. Seguimos em paz para a próxima faixa (depois dessa tocar 3 vezes, pois 9-6=3).
09. Mary Jane.
Essa é para falar sobre um dia difícil e como lidar com ele. Mary Jane tem dias difíceis, cansativos. Chega em casa e coloca um aviso para que não a perturbem, ela já não sente vontade de sair para dançar, tem dificuldades para dormir e nem vê sentido em dormir, uma vez que não pelo que sonhar. Algumas pessoas percebem que ela está perdendo peso (para quem?) e se questionarem se ela é feliz, ela tenta segurar as lágrimas. O conselho para Mary Jane é: tentar esquecer um pouco de viver para os outros e viver para si. Ela está tentando agradar a todos e está se perdendo no processo. Não entendo a letra como egoísta. Entendo que é o amor próprio que temos que ter para não ficarmos sujeitos às pessoas que nem sempre querem nosso bem. Faixa regida por um lindo piano.
10. Ironic.
Essa faixa é confusa. Deveria ser sobre ironias mas ao analisar a letra, quase não aparecem ironias nela. Sarcasmo, em alguns trechos. Chuva no casamento, passeio gratuito mas você pagou por ele, isso não é ironia. A única fácil de encontrar é um senhor que morre de medo de viajar de avião e um dia faz isso. Exatamente esse voo cai e ele morre. Isso é irônico. O resto é falta de sorte ou azar. Sugiro que vejam o clip da música com uma menininha. Muito legal.
11. Not the doctor.
Essa é uma boa faixa sobre relacionamentos. Aqui, o cara não superou sua antiga paixão e está tentando se relacionar com a nova paixão. Mas não consegue ver que com ela 1+1=2. Ele quer que ela cole o coração dele, que cuide dele, que o complete. Mas se o vazio é apenas seu, como eu posso ajudar? Não sou sua babá ou sua mãe. Eu não sou substituta da fumaça que você anda inalando. Isso sim é um ótimo exemplo de uma mulher madura que percebe que o relacionamento é amoroso pra ela mas pra ele, é uma relação familiar. Não precisa de uma mulher, precisa de uma segunda mãe. Isso não resulta em um relacionamento saudável. Lembra do início do álbum? Ela quer uma pessoa para andar ao lado dela, que a compreenda. Ela não está procurando um filho adotivo. Gosto como o álbum recupera faixas anteriores e faz com que tudo fique encaixado. E então, vamos para a última faixa.
12. Wake up.
Encerrando lembrando como tudo começou. Temos uma relação que não será boa para ela. Ela já passou por relacionamentos complicados, por uma vida complicada, tendo que ser perfeita para ter o amor dos que a cercavam, e de repente, chega um cara que deveria ser o parceiro mas que nem consegue se virar sozinho. Tudo isso é recuperado nessa faixa. Não há mais amor, nem sentimento. Nada. Então, se você é apenas um menino com medo, acorde. Se tudo que acaba pra você, acaba definitivamente, é hora de acabar com isso. Vá embora. E que não volte mais. Mais uma boa faixa.
13. Your house.
13? Como, se no CD só tem 12 faixas? Bem, em alguns álbuns há essa faixa extra. Aqui, temos a volta da namorada à casa do ex namorado. Ela sabe que não deveria estar ali mas sente saudade do cheiro dele, de dança no banheiro dele, deitar na cama, usar a roupa dele, ouvir os CDs dele... Depois disso, ela acende um incenso dele e percebe uma carta na escrivaninha. Está escrito "Olá amor, eu te amo muito. Nos vemos mais tarde". Não é a letra dela. Então ela pede desculpas de novo, por chorar em seu banheiro, pelo sal na cama e pelo choro durante toda a tarde. Faixa extra e isso sim retrata saudade da pessoa amada. Nem sempre o perfume da pessoa resolve o problema.