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Quadragésima primeira postagem: Revoluções por minuto - RPM.

Mais uma banda nacional. Mais uma banda que pude ver tocando suas músicas em show. Quis mostrar o primeiro álbum do RPM apenas para lembrar que dificilmente álbuns de estreia não são bons. Imagine um grupo de pessoas que gosta de música (e de escrever) juntando diversas letras ao longo de vários anos e finalmente têm a oportunidade de colocar isso em um disco. Você vai aproveitar o momento para colocar o que de melhor produziu. Segundo álbum já é outra história e isso será contado em outra oportunidade. Vamos ao bom disco da RPM.

01. Rádio pirata.

Essa faixa dará nome ao segundo álbum da banda (primeiro ao vivo) mas não é importante apenas por isso. Aqui é a carteira de identidade deles. Rádio pirata fala sobre como há coisas para se protestar e localiza onde está, de fato, a classe que deveria reclamar. Rádio pirata era algo que aparecia na metade da década de 80 na periferia das grandes cidades e que tinha a função de rádio comunitária. E a faixa nos mostra que é nessas rádios que irá tocar a música dos inconformados com a situação do país. Branquinhas de olhos verdes não podem reclamar da vida.

02. Olhar 43.

Esse título virou expressão idiomática, tamanho o sucesso da faixa. Paulo Ricardo, vocalista da banda, explicou em entrevista que esse era o olhar de uma pessoa tímida pois, segundo ele, não tinha muito jeito para conversar com as mulheres. Não acredito muito nessa conversa mas tudo bem. O que temos aqui é um cara sem jeito apaixonado por uma mulher. Sem saber como se aproximar dela, tenta "seduzi-la" com textos, frases ou citações bonitas. O problema é que, embora isso atraia a pessoa desejada, a situação não avança. Falta atitude. Nesse momento ele se chateia pois tenta tanta coisa bonita e outro cara apenas com a atitude toma ela para si. Pois então chega de rimas e vamos sair. Vamos ao cinema. Não estou nem aí para as consequências. Se as coisas derem errado, deixarei meu olhar 43, indo embora, louco por você e ainda achando um desperdício de mulher bonita você não estar aqui.

03. A cruz e a espada.

Momento de faixa bonita. Vou dividir a faixa em 2 momentos: o primeiro é bem claro durante a música e fala sobre a juventude perdida e sem objetivos. Então vem um relacionamento com alguém mais velho, mais experiente. E esse jovem percebe tardiamente que a vida de amor em amor é uma vida sem significado. Que a fase de amadurecimento passou e que ele se perdeu em uma vida tola. Para o segundo momento eu vou direto para o refrão. Agora eu percebo que aquele beijo, era o fim. E o meu desejo (minha vontade de produzir), se perdeu de mim. Mas basta falar com você que tudo volta. Até a vontade de produzir.

04. Estação do inferno.

Música para falar de fantasmas lá do passado. Letra que mostra que o passado ainda mexe com o autor pois basta uma memória aparecer que o arrepio corre pelo corpo. Ouve a voz da pessoa e pede para que esse fantasma esteja exorcizado. Essa sensação é o inferno da faixa, que teima em existir para a pessoa. Música rápida e até animada demais para o tema.

05. A fúria do sexo frágil contra o dragão da maldade.

Quando o título da música é maior que a letra. Essa letra não é tão famosa mas é um retrato do movimento feminista. Fala da independência feminina, da mulher forte que não precisa de ninguém para se afirmar. É uma boa faixa para um bom tema. Poderia ser melhor explorada.

06. Louras geladas.

Louras ou loiras? Sinceramente, prefiro a forma "loira" mas ambas aparecem como corretas no dicionário. O início com a frase "só tem homem feio aí?" é uma das coisas mais originais que se pode colocar em uma faixa. Mais uma faixa feminista. Temos um cara completamente apaixonado por uma mulher, mas essa mulher não liga para compromissos sérios. Como ela não liga pra ele, resta ao coitado ser consolado pelas loiras geladas em algum bar. Explicando o motivo de colocar a faixa como feminista. O básico do movimento feminista é direitos iguais. Isso significa que se o homem pode ter o papel de "não ligo" em um relacionamento, a mulher também pode ter. Simples desse jeito.

07. Liberdade/Guerra fria.

Gosto dessa letra. Quem não conhece o que foi a guerra fria, sugiro uma pesquisada rápida sobre o tema. Gosto da introdução. Lembra música oriental. A metáfora da guerra fria surge como alegoria para unir as duas pessoas. São um casal complicado, pela letra, onde o cara assume o papel mais bruto e promete mudar para que a guerra fria acabe mas sente que não consegue pois seu jeito é complicado demais para mudar. Gosto mais da música aqui do que da letra.

08. Sob a luz do sol.

Essa é a faixa da vida perigosa. Quero do escuro, a cumplicidade em qualquer loucura. Isso explica bem o que está havendo. Algo feito no escuro é algo proibido, mas ao mesmo tempo, muito bom para não se experimentar. Há o medo? Sim mas ele não me mata mais, o que significa que na letra ele prefere continuar se arriscando. Ele deseja explorar e viver a cidade, apesar de todos os seus defeitos. Quando o dia chega, apenas o cansaço o toma e ele volta a rotina. Sob a luz do sol ele não deseja existir pois, uma vez experimentada, a noite, o risco, é o que ele deseja. Sobre a parte instrumental, o teclado me lembra a música "Out of touch", do "Hall and Oates".

09. Juvenília.

Vamos para mais uma boa faixa desse álbum. Essa é atual, infelizmente. Temos o Brasil, eterno jovem (teu futuro espelha essa grandeza e país do futuro, só pra citar exemplos de como não foi criado para funcionar no presente), e tudo que aflige esse moribundo. Não entrarei em questões políticas partidárias pois entendo que todos eles são iguais. Quando vejo crianças de 5 anos morrendo por falta de 2 mil reais para pagar um transplante e ao mesmo tempo um vereador com verba de 50 mil... entendo que todos são iguais. Acabei entrando no tópico sem querer. Bem, a letra inicia falando do potencial já maculado do Brasil, com seu costume servil, e encerrado em grades de aço. Temos os ladrões que aqui estão e os que vêm pra roubar o que ainda restar. É uma boa música para reflexão, embora o público jovem atual não tenha capacidade intelectual de compreender que a letra alerta para que não deixemos esses patifes fazerem o que quiserem. Juventude que vai à rua pedir saída de presidente, ano que vem reelege prefeitos e vereadores que não fazem nada, a não ser, trabalharem para a manutenção no cargo. Entra a última parte da música, brilhantemente lembrando que o país vem sangrando e divide a culpa entre nós. Afinal, eu e você colocamos esses políticos no poder...

10. Pr´esse vício.

Título ruim de escrever e dá até certa angústia. Ainda bem que a faixa faz com que esqueçamos isso. Que instrumental bacana já na abertura dela. Guerra santa está aqui nessa faixa. Em tempos de "atentados religiosos" em vários países, uma faixa que fala sobre "querosene e álcool explodem no local" e adiante, "não tem mais ninguém rezando nos templos em Jerusalém" está contextualizada. Outra vez vejo-me obrigado a usar o termo infelizmente.

11. Revoluções por minuto.

Título do álbum e aparece para encerrar. Pelo menos vai com chave de ouro. Letra perfeita para continuarmos pensando em nosso país. Para quem acha que a letra é exagerada para a época, sugiro novamente o documentário "democracia corinthiana". Vocês verão tanques de guerra em frente ao planalto. Na letra temos um resumo do que acontecia por aqui, gente fugindo do país (ou sendo mandada embora), guerra fria em alta mas o capitalismo sinalizando que venceria a batalha (muito bem explicada quando "a china bebe coca cola e aqui na esquina, cheiram cola") embora não apenas coisas boas viessem com esse formato de economia. Da mesma forma que os VCR (Vídeos Cassetes) chegavam ao Brasil, as drogas também chegavam. Boa análise da situação na época e uma ótima maneira de encerrar o primeiro álbum do RPM.