Trigésima nona postagem: 4 - Los Hermanos.
Depois de uma longa ausência, temos uma banda nacional de volta. Deixarei uma coisa clara: temos muitas bandas nacionais boas e muitos álbuns bons. Infelizmente o nosso mercado de CD não ajuda na aquisição de álbuns. Tenta comprar um CD do Lobão (que já passou por aqui) ou um clássico da Blitz (também passou por aqui) e me fala se consegue. Enquanto isso, comprar um álbum de alguma banda estrangeira não é tarefa árdua (pode até ser bem caro pelas taxas de importação mas isso não é o que estamos discutindo), o que compromete a ideia das postagens. Adoraria poder escrever um texto que motivasse alguém a ir procurar o CD e comprá-lo. Alguém pode argumentar que dá para baixar em algum programa de streaming de música. Não é a mesma coisa. Não tem o encarte bonito com fotos, letras e alguma surpresa. A qualidade do áudio também não é a mesma. Então, sou fã de álbuns e por isso mesmo, lamento não trazer sempre coisas boas nacionais simplesmente porquê não consigo comprar pra ouvir. Mais fácil encontrar um CD de uma banda da Croácia do que do Brasil.... Bem, lamentos à parte, vamos para um CD tranquilo, gostoso de ouvir e que serve para acalmar os ânimos.
01. Dois barcos.
Começamos com uma música de recomeço. Brincadeira boa essa. Queria gostar das músicas animadas mas não rola. Aqui estamos com duas pessoas distantes (dois barcos, essa foi de graça) distantes. Em algum momento os barcos se percebem mas apenas para um adeus. Então todo cantar se perde no mar, a presença se vai e resta lamentar pela morena que se foi. Mesmo sabendo que o amanhã não a trará de volta, deve-se acostumar. Bom início.
02. Primeiro andar.
Gosto do início da faixa, musicalmente falando, e do título. Primeiro andar não é o de um prédio. É dar o primeiro passo. Tem uma música do Arnaldo Antunes que fala isso também ("na vida só resta seguir, um risco, um passo, um gesto rio afora") e a música trata disso. Que dar o primeiro passo, se arriscar é o que faz a vida ter sentido (se é que ela precisa de um). Arriscar mesmo sabendo dos riscos e não ter medo deles. Quanto maior o risco, maior a recompensa. Muita frase feita mas o que a faixa quer dizer é simples: Ande e tente fazer o que você sente vontade pois vive-se apenas uma vez. E daí se não der certo? E daí se o desejo é maior que o medo? E daí se tudo acabar e um não olhar mais para o outro? Você fez o que queria fazer? Experimentou? Foi bom (deve ter sido)? A responsabilidade é sua (e a culpa também). Não precisa criar um dramalhão... é só eu não ficar colado em você. Se me chamar eu arrisco novamente. Apenas experimentando é que vivemos. E é vivendo que descobrimos quem somos. Quando eu me encontrar, te aviso quem sou. A não ser que esteja comigo para descobrir ao mesmo tempo. Isso é um convite. Já que se vai, não vá de vez.
03. Fez-se mar.
Parece o João Gilberto no início da faixa (calma que é um elogio). Ainda estamos no mar, aquele barco ainda navega (ou naufraga). De onde observo, vejo que o amor chegou ao outro barco. Eu não estava lá mas vi que o amor chegou. Então não é por mim. Embora espere que o tempo mostre que você não deve se entregar, pois qualquer pessoa diria tudo para te conquistar, eu ainda creio que em algum momento, esse seu barco navegará de volta. Infelizmente não posso navegar em sua direção nem posso te convencer a não partir. O que posso afirmar é que mesmo sem querer saber como é sua vida distante de mim, quando você quiser voltar, o barco ainda estará à deriva por você.
04. Paquetá.
3 minutos é o suficiente. O texto sai rápido (não tão quanto a música) e temos, quem sabe, a causa do barco ter ido embora. Aqui, a causa aparente é uma briga. Mas as brigas não terminam relações. Elas evidenciam que algo já vinha errado. Esse amuleto de amor que escorregou (e se deixa cair e quebrar não recupera mais) quase faz com que a vida perca o sentido e vire o mar de lágrimas de faixas passadas. Como foi apanhado antes de cair, ainda há tempo para reconciliar, para ajustar os erros, para aprender, para se redescobrirem enquanto casal e enfim, para que ela ainda seja o farol que me direciona para a ilha perdida e por fim, me encontrar.
05. Os pássaros.
Seguimos com o lamento. Aquele amor se foi e aqui temos a pessoa sozinha. Curiosidade é que sabia que esse dia chegaria (não interprete o "sonharia" como algo que se desejava, e sim, como algo que aconteceu em sonho) e nunca quis que esse dia chegasse. Não que isso importa pois as coisas da vida acontecem queira gostemos ou não, aceitemos ou não. Nessa confusão eu sonho com você levantando o véu, mas dessa vez eu estou do outro lado para receber-te. Infelizmente ao acordar não me sinto "eu". O que as pessoas vêem é apenas aquele que, confuso, desejaria estar sonolento ao seu lado de novo. Não sei se isso é outro sonho, em sendo, se é bom ou ruim ou se isso importa. É apenas sonho. Se for pra te ver no reino do sonhar, deixe-me dormir.
06. Morena.
Gosto demais dessa faixa. Só consigo ter uma interpretação aqui. A morena vai fazer com que o barco que se foi, continue indo. A paz que ele precisa está com ela. E é bem o que a letra deseja. Todo amor do mundo aqui e para quem se foi, o outro lado. Nem me importo com o que aconteceu, apenas quero ficar com você, juntinho, até o fim raiar. Bem simples e direto.
07. O vento.
Dentro do possível, uma faixa animada. Uma retomada das 6 faixas com os elementos: onda; vento; brevidade da vida e o sonhar. Talvez um interlúdio fosse melhor. Tem uma parte que gosto muito. Quando ele cita que 1 século, 1 mês, 3 vidas e mais. 1 mês pode ter a intensidade de 1 século se a vida for vivida. E isso pode mexer com 3 vidas. E se não podemos mais rir um ao lado do outro, só resta chorar. Se for para viver esse amor, um dia ele renascerá e virá coberto por bênçãos. Claro que isso não acontecerá. Esse amor era uma nuvem, um momento. O vento chegou e dispersou essa nuvem de forma que nem chuva se formará.
08. Horizonte distante.
Interessante como a água está presente durante todo o álbum. Sigo defendendo álbuns em detrimento às coletâneas. Hora de rock? Quase. Agora o barco se foi. De forma a sumir bem depois do horizonte. Fosse Roberto Carlos, estaria além do horizonte. Retoma faixas anteriores onde o olhar se perde se não há mais a amada ao lado. Boa faixa com instrumentos muito bem executados. Aproveito para dizer que esse álbum é muito bem executado. Sinceramente, não quero ver horizonte. Quero ver o barco antes que ele suma. Mas olhar para esse barco que navega para outros mares é complicado.
09. Condicional.
Aqui a coisa fica séria. Minha faixa favorita e talvez o texto fique grande. Espero que não fique chato. Vamos lá. Condicional é algo que depende de algo para acontecer. Aqui temos alguém preso à ideia de amar. Então ama alguém (via em todo céu é o momento da paixão) e cria um mundo perfeito onde esse amor deve acontecer. Quando a pessoa amada ancora, percebe e recebe apenas deletérios (algo que destrói). A relação é nociva e mentirosa. Ao se perceber disso, tenta-se colocar os pés no chão (quase impossível por viver o grande amor), abre-se mão de muita coisa (do juízo, do bom senso e da segurança) até entender que o amor deve ser uma via de 2 mãos. Eu amo e tenho que ser amado. Quando vejo que não é isso, tem-se o gosto da desilusão. Amar a pessoa é uma delícia, um doce. O difícil é ter você pra mim, de verdade. Depois de olhar o que tem em mim, vejo o que há em você, tantas coincidências que não é justo que não te tenha. Até aí tudo bem. Quando começamos a tentar fazer a relação funcionar, tudo muda. Eu nunca quis alimentar esse sentimento por você, dei tudo pra que você fosse embora. Não funciona. Quanto mais te afasto, mais te quero aqui. E em todo lugar. Eu vi seu olhar, sei como me olhou, sei o que deseja. O que preciso fazer? Momento de confusão... Eu não sei mais. Agora estou só e mesmo estando assim, eu sei que você pode me libertar se quiser.
10. Sapato novo.
Essa é a continuação da faixa anterior. Conversando com a memória do que foi, temos que depois de perceber que era tudo um sonho, que nada do que foi vivido significou tanto assim para a outra pessoa, fica-se pensando no que fazer agora. Enquanto a resposta não surge, resta tentar fazer de conta que nada aconteceu, que tudo segue sua rotina, que tudo estava planejado para acabar. Que ninguém sabia nem o que sentia pelo outro, então como pode isso causar vazio? É só caminhar sozinho, indo até onde der, sem chorar, sem se lamentar. É aceitar que acabou e que não tem volta. É ficar feliz por não olhar aqueles olhos (e eu pensando que apenas os olhos verdes da inveja eram o problema) e esperar que um novo mês vá levando as lembranças nas ondas do mar, até que na costa fiquem apenas as conchas sem suas pérolas.
11. Pois é.
Quase encerrando o álbum temos a faixa que diz que pois é. Não deu. E embora haja a esperança pelo amanhã (que pertence a Deus), lembramos que o coração quis se entregar e ninguém pode dizer a ele que não deveria ter feito. Se o destino não quis, paciência. Vamos esperar pelo amanhã. Se um dia voltar, não tenha dúvidas de que essa angústia passará e restará ao meu coração apenas o alívio de ter você por perto.
12. É de lágrima.
Hora de encerrar. Aquele mar do início do álbum era, de fato, feito por lágrimas. Bem, se são minhas lágrimas, que eu crie ondas para que seu barco se afaste do meu, embora eu queira que seu barco seja o meu (dualidade é ótimo nesse momento). Se acha que o amor morreu, saiba que aqui tem muito mais para lhe dar. Embora muita coisa tenha acontecido, o mar é meu e se você quiser, pode remar de volta.