Trigésima postagem: Descivilização - Biquíni Cavadão.
Quem diria que chegaria ao número 30. A cada semana penso em como tantos bons álbuns foram produzidos e quantos ainda não vieram para esse espaço. Faltam 22 para fechar a ideia original de 52 textos. 30 álbuns e 30 artistas diferentes. Aqui trago uma memória afetiva. Biquíni Cavadão foi o primeiro show de uma banda de rock que vi. Faço uma reverência ao meu tio que me conduziu por esse caminho. Para lembrar de boa música, vamos ao álbum.
01. Zé ninguém.
Essa poderia tocar atualmente. Com tanta bagunça, falta de governo e com a população pagando cada vez mais a conta, só o Zé Ninguém para retratar nossa vida. Claro que isso é um lugar comum. Em qualquer era, sempre o pobre pagou a conta, independente do país. Aqui não seria diferente. Não falo sobre partido A, B ou C. Acredito que já está provado que todos são iguais. O irônico é saber que todos que pediram, pedem e pedirão mudança de governo, ano que vem votarão nos mesmo que estão querendo que saiam. Viva o Zé Ninguém.
02. Cai água, cai barraco.
Continuação da faixa 01. Se ali tínhamos retratada a situação política do país, aqui vemos a reação da classe mais baixa. As inundações, que sempre atingem áreas "menos favorecidas" (aqui em casa é um exemplo) e os deslizamentos de terra (crescimento desenfreado populacional) aparecem muito bem retratados na faixa. Engraçado como ao ouvir que o pessoal sobe o morro após roubar uma senhora e se defende com tiros da polícia, alguém pode imaginar o Rio de Janeiro. Eu consigo ver essa situação aqui na cidade onde vivo. E você? Será que apenas o Rio de Janeiro e Natal estão assim? Cai tudo, menos os poderosos que deixaram o país entregue às moscas (tsé tsé).
03. Últimas horas.
Essa parece minha rotina atual. Exceto pela parte da menina (não pode estar tudo errado também..). A intenção da faixa é mostrar a perturbação causada pelo término do relacionamento. Como falei, não é o caso mas noites mal dormidas com preocupações e a vontade de fazer com que as coisas funcionem sem conseguir fazer isso rapidamente... fazem uma tempestade aparecer na minha cabeça também. Essa música é muito legal pra ouvir nessas madrugadas.
04. Vento Ventania.
Não vou colocar legenda de melhor faixa pois acredito que o álbum é todo bom. Vento Ventania tocou muito quando esse álbum foi lançado. Classifico essa como o famoso "fugere urbem" lá do Arcadismo (fugir da cidade, do urbano). Essa vontade de fugir dos problemas já citados nas faixas anteriores provoca essa sensação mesmo. Essa é a faixa mais leve do álbum, definitivamente.
05. Bem vindo ao mundo adulto.
Faixa que originalmente não pertence ao álbum mas entrou como um remix da original. Bem, como a letra é a mesma, havendo mudança apenas rítmica, está aprovada. Essa explica o motivo da vida ter tantos problemas para serem resolvidos. É o mundo adulto. Vou fazer uma relação estranha aqui. Ouço essa música e imediatamente lembro de uma música do Lobão chamada "Pobre Deus". Entendo que a relação pode ser feita por mostrar de um lado as corrupções do mundo adulto com o biquíni cavadão e o desespero causado pela falta de soluções para os problemas na música de Lobão. Fica a sugestão para ver se faz sentido.
06. Descivilização.
Posso falar sobre o "fugere urbem" de novo? Espero que sim pois a faixa mostra exatamente o que fazer quando chegar ao campo. Lembrar de tudo que está na civilização mas apenas para dizer que essas coisas que tanto mal fazem não podem mais fazê-lo por não estarem no campo. Gosto da frase final: "Porque a vida é passageira e a morte, um trem".
07. Vesúvio.
Falei que não colocaria "a melhor faixa do álbum" e essa me dá vontade de comentar isso. Gosto dessa por me lembrar da definição do que é um louco. Um louco é alguém que sempre faz as mesmas coisas e espera resultados diferentes. Essa música é exatamente isso. Não passar o resto dos dias fazendo tudo igual é a maneira encontrada por ele para evitar o tédio e para deixar uma marca no mundo. Por isso as comparações com eventos que ficam na memória, como as cinzas do Vesúvio. Criar um mundo diferente a cada dia seria legal mas Belchior já matou essa charada. Jovens pensam assim até envelhecerem e copiarem as atitudes dos pais.
08. Arcos.
Uma linda balada aqui. Essa lembra a bossa nova. Aqui a letra volta ao mundo perdido da faixa 03 onde o amor se foi. E nessa faixa temos a busca por esse amor. Essa é obrigatória no álbum. O final tem um dos melhores versos românticos dos anos 90. "O que restou dos obeliscos, fontes, pontes sobre o rio, o que restou dos bustos, dos arbustos, e principalmente o que restou de tanto amor? Só um centro vazio." Nota 10 aqui.
09. Impossível.
Mais uma faixa romântica para lembrar que independente do ritmo que se ouça, sempre haverá uma faixa sobre o amor (conquistado, roubado, perdido, presente ou ausente). Esse amor citado na faixa é bem presente, visto ser impossível de ser esquecido. Ao mesmo tempo a faixa deixa uma dica de que esse amor foi-se não por término mas pode ter sido por morte. Afinal, é citado na letra que "tudo que morre fica vivo na lembrança" e em sequência "é impossível esquecer você". Eu simplifico logo e digo que concordo com a letra. É impossível esquecer você minha morena.
10. Meu reino.
Sou eu. Eu nem sei se tem alguma faixa com a qual me identifico mais do que essa. Faço uma análise dessa música usando a sociologia. Vejo aqui a formação da personalidade. Embora o convívio da casa forme algo, esse ser se reconhece enquanto humano e enquanto ser social quando tem contato com outras pessoas. Talvez por isso goste tanto dessa música. Ela lembra que as outras pessoas são necessárias para a formação de um ser racional, de fato. Essa eu tenho que dar nota 10 por ser minha favorita.
11. A cidade.
Queria saber porque os bons álbuns acabam tão rápido. Aqui temos uma faixa melancólica, quase bucólica. Depois do "fugere urbem" é hora de voltar pra casa. A visão sobre ela muda após a distância. A visão da cidade sem as pessoas mostra essa estrutura que contém os Zé Ninguém, os reinos individuais, as pessoas que vêm e que se vão. Foge um pouco do restante do álbum mas ao interpretar o retorno como um recomeço, vale o fechamento do álbum.