Vigésima nova postagem: Alucinação - Belchior.
Prometi que traria um álbum rock and roll para continuar no clima da semana do rock. Não consegui pensar em álbum melhor para cumprir essa missão do que este. As letras retratam o pensamento mais básico do jovem: "Farei diferente dessa geração que está aí". O álbum mostra como essas ideias nem sempre resistem ao tempo e como esses jovens ao amadurecerem fazem as mesmas coisas. Sem mais delongas, vamos ao álbum.
01. Apenas um rapaz latino-americano.
Para iniciar um álbum de hinos, o maior deles. Queria poder destacar algo na faixa. Não consigo. Deve ser ouvida por completo. Concordo com ela do início ao fim. Palavras são, de fato, navalhas e ao vivo é muito pior. Especialmente para quem não é abastado e tem que matar um leão por dia para ter um pouco de dignidade. É difícil ser apenas um rapaz latino-americano.
02. Velha roupa colorida.
Essa é bem rock and roll. Começando pela música em si. A letra vai acompanhando uma mistura de rock, folk, baião... E o mestre Belchior destila parte de seu conhecimento com citação ao Bob Dylan (like a rolling stone) e Edgar Allan Poe (black bird - o corvo) prevendo uma nova mudança que a juventude trará, visto ser necessário rejuvenescer. Fica a sugestão para a leitura do poema do Edgar Allan Poe... para quem gosta de um bom terror.
03. Como nossos pais.
Não é uma coletânea. Sempre que coloco isso significa que o álbum apresenta o que de melhor o artista produziu. Essa mostra o conflito entre gerações, ideológico e contundente, onde os jovens não aceita o mundo como está. Ao mesmo tempo, percebemos que no fim, fazemos as mesmas coisas e falamos as mesmas coisas que nossos pais. Destaco: "depois deles não apareceu mais ninguém". Esse é o saudosismo que os jovens criticam e que com o tempo repetem. Ótima reflexão.
04. Sujeito de sorte.
Temos aqui uma música interessante sobre os jovens sentem-se imbatíveis. Mesmo com as dificuldades que se enfrenta, a resistência do jovem o faz crê que o futuro é melhor que o passado. Esse é o sentido da repetição de que "ano passado eu morri mas esse ano eu não morro". Destaco a música nessa faixa. Clima soul parecendo Tim Maia.
05. Como o diabo gosta.
E quem nunca revoltou-se? Aqui temos a rebeldia gritada durante a faixa desafiadora. Coloca a música na época da ditadura e temos uma resistência contra o militarismo. Bela união e tem algo que faço sempre: "Nunca fazer nada que o mestre mandar".
06. Alucinação.
Faixa-título e uma das músicas mais conhecidas e regravadas do Belchior. Gosto da versão do Engenheiros do Hawaii. Essa me lembra a Universidade. Coisas da juventude que quer "amar e mudar as coisas". Na verdade temos um retrato da realidade das grandes cidades sob a ótica que uma pessoa que vem do interior do Ceará e se depara com uma das maiores cidades do mundo. Cito novamente a cultura do compositor. Laranja mecânica na letra é algo diferente. Outro destaque. A famosa alucinação é simplesmente suportar esse cotidiano. Sem teorias complicadas. A verdade exposta de forma bem clara. Nota 10!
07. Não leve flores.
Colocaria em uma camiseta essa frase sem dúvidas. Percebo um ritmo de "I wanna hold your hand" e não duvidaria da influência. Essa é basicamente o "não conte vitória antes do tempo" e é alerta para a esperança que se deposita na juventude e que não vira realidade quando esse jovens envelhecem. Isso já está em "como nossos pais".
08. A palo seco.
Nome de um acústico que ele fez e que recomendo. Essa faixa serve para não esquecer o ano do álbum... 76. Gosto da recuperação de ideias de outras faixas. Temos um exemplo aqui: "Quero que esse canto torto, feito faca, corte a carne de vocês". Lembra das palavras que são lâminas? Além disso, olha o desespero do jovem ao ver que não vai conseguir mudar o mundo e terá que se adequar à ele. Triste fim desse jovem.
09. Fotografia 3x4.
Mais um hino. Aqui é a biografia do Belchior. Contando a saída dele do Ceará para se aventurar na cidade grande. Essa é cantada para quem passou dificuldade ao sair de casa para tentar uma vida melhor. Veloso, o sol não é tão bonito assim. Caetano Veloso deve ter gostado desse lembrete. Eu me diverti.
10. Antes do fim.
Essa encerra o álbum. Como a alucinação era suportar o dia a dia, nada resume esse álbum melhor do que a frase "não tome cuidado comigo, que eu não sou perigoso. Viver é que é o grande perigo". Eita vida bem retratada...