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Vigésima sétima postagem: O dia em que a terra parou - Raul Seixas.
Com atraso mas valerá a pena. Comentei que a diferença entre as bandas estrangeiras e as nacionais estava grande e que iria diminuir isso com o tempo. Claro que esse não é o motivo pelo qual esse álbum entrou. Estava dando uma olhada na televisão esses dias em um canal de música e a minha idade não consegue mais processar o que se chama de música. Falta a letra e falta a música, de modo orgânico mesmo. O que ouvi foram sons eletrônicos e letras produzidas para ganhar dinheiro mesmo sem nenhuma outra função. Não digo que ganhar dinheiro não seja importante. Não seria hipócrita. Mas esquecer a arte é algo que não podemos deixar acontecer. Dito isso, vamos ao álbum da semana.
01. Tapanacara.
Essa se fosse o Tim Maia cantando combinava. Funk o tempo inteiro. Musicalmente uma das melhores faixas do álbum. A letra parte para um autorretrato do artista mostrando sua insatisfação em manter-se na tradição baiana de música e insistindo em arriscar.
02. Maluco beleza.
Música que melhor retrata o Raulzito. Essa eu ouço desde pequeno e sempre a achei interessantíssima. Considero-a como sendo o olhar diferente para o igual. Explicando: olhar uma situação (ou todas as situações) de modo diferente, um outro ângulo. Quem vai por esse caminho é facilmente chamado de louco (Zé Ramalho que o diga) ou, se for rico, de excêntrico. Raul Seixas abraçou sua diferença e brincou de ser maluco.
03. O dia em que a terra parou.
Esse nome já foi título de filme mas a descrição da letra é melhor que qualquer um desses. Ele imagina o mundo parado sem cataclismos. Simplesmente ninguém saiu de casa. E o mundo parou. Recomendo a faixa para pensarmos na importância de cada um nessa engrenagem.
04. No fundo do quintal da escola.
Eu gosto demais dessa faixa... Essa nem vou usar o significado dela e sim, voltando às origens, colocar meu ponto de vista. Ouvi essa faixa em uma época em que estava chateado com várias coisas, inclusive com o ambiente de trabalho. Sabia que o que eu estava fazendo daria resultados mas não via isso no ambiente. Então um dia, uma coordenadora me pediu um planejamento escolar. Detesto fazer isso. Resolvi colocar 2 frases no planejamento: A primeira foi de um álbum do Engenheiros do Hawaii e a outra veio dessa faixa. "Se quiser contar comigo é melhor não me chamar, pra jogar bola. Tô pulando o muro com o Zezinho no fundo do quintal da escola". A ideia era mostrar como era tedioso pra mim ficar na sala dos professores ouvindo sempre as mesmas ideias erradas... Bons tempos. Claro que fui chamado pra explicar a frase. Expliquei que elas eram uma reflexão sobre os alunos como eles não se sentiam bem dentro da escola por ela não mais os representar. Eles acreditaram..... Quanta falta faz um cérebro.
05. Eu quero mesmo.
Sabe quando a família começa a perguntar quando você vai melhorar de vida? Essa música é isso. Eu não quero mudar de vida pois acho que a minha é ótima. A faixa mostra como muitas vezes queremos coisas simples e ficamos complicando as coisas. Recomendo.
06. Sapato 36.
Vontade de falar que é a melhor faixa do álbum mas não posso. A próxima é. Essa complementa a ideia da faixa 05. Quando a família impõe o sonho dela sobre o seu (não aconteceu comigo mas sei que acontece com muita gente). Parte mais forte é "porque cargas d´água você acha que... tem o direito de afogar tudo aquilo que eu sinto em meu peito?" O sapato 36 é exatamente isso. O número do pai e não dele. Recomendado.
07. Você.
Melhor faixa do álbum. Todo álbum tem a sua. Essa talvez seja a melhor de todos as faixas que passaram por aqui. Pode ser exagero mas a reflexão que ela apresenta mexe com todo mundo (??). Pare e se pergunte o motivo de fazer tudo que você faz. É apenas para sobreviver? É para ter luxo? É para necessidades básicas? Qual o preço disso? E quando você não estiver mais aqui? O que ficará? Faixa mais recomendada de todas.
08. Sim.
Eu já digitei em vários textos que a vida é simples e nós complicamos. Essa ideia deve ter partido de ouvir essa faixa várias vezes. "A gente sofre, a gente luta... Pois nossa palavra é 'Sim'. A gente ama, a gente odeia... mas nossa palavra é 'Sim'". Sim à vida. O bom dela é o passeio.
09. Que luz é essa?
Essa é nordestina até a alma no ritmo. Fico imaginando o povo do interior se assustando com avião ou com a chegada da energia. Vou destacar algo fantástico na faixa. Já no segundo verso Raul canta "que luz é essa que vem 'regano' lá do céu". Chegando é para os cultos... tem coisas que 'regam mermo'.
10. De cabeça pra baixo.
Sabe o funk? Chegou para encerrar o álbum. Uma visão psicodélica sobre a cidade de cabeça pra baixo, como a visão do dia em que a terra parou. Ótima para curtir o som.