Vigésima terceira postagem: Ten - Pearl Jam.
Terceiro texto com banda de Seattle mas dessa vez não vamos ao contexto social e a relação com a música produzida na cidade. Aqui, o foco serão as músicas do álbum.
01. Once.
Ótimo início. Citação com um propósito aqui: "Backstreet lover on the side of the road" (o fim dessa estrada pode estar em outro estado). Coisas que acontecem uma vez na vida são suficientes para serem inesquecíveis. E essa estrada acaba longe demais daqui. Deveria começar e terminar aqui.
02. Even flow.
Aqui temos uma faixa de reinício. Faixa que retrata a vida de pessoas que moram nas ruas e que muitas vezes julgamos como loucas sem sabermos que a privação de comida causa alucinações. Na faixa isso aparece com as frases sobre as borboletas e sobre o riso (como se fosse um louco) que essas pessoas dão. Momento para refletirmos sobre quem está lendo esse texto tem sorte.
03. Alive.
Essa é a faixa perturbadora aqui. Alive é uma mistura de emoções e conta uma história. Aqui, um jovem descobre que o seu pai está morto e que o homem que está com sua mãe é o padrasto. Enquanto isso, há a descrição do incesto entre a mãe e seu filho. Não fosse isso suficiente, essa faixa começa um conto que envolve Alive, Once e Footsteps (está em outro álbum). O início retrata esse personagem e como ele é perturbado, Once mostra ele se perdendo e tornando-se um serial killer e Footsteps mostra a execução dele. Daria um conto magnífico.
04. Why go?
Gosto dessa faixa. Conta a história de uma menina que foi enviada para reabilitação pela sua família. A menina foi pega fumando maconha e a mãe a colocou lá. Pelo que a letra fala, a mãe não visitou a filha e ainda a acusou de mais coisas além de roubar. Essa faixa me lembra o trabalho que realizo em uma ONG. Algumas famílias apenas querem ocupar seus filhos para que outras pessoas façam o que elas não tem capacidade de fazer: Educar a meninada.
05. Black.
Poderia escrever o texto completo apenas com essa faixa. Tentarei ser justo com a música. Como escrevi antes, tem coisas que basta acontecerem uma vez e já são suficientemente inesquecíveis. Então sentir-te deitada no colo, sentir o toque de suas mãos, sentir seus lábios sentir o coração bater mais forte e mais acelerado e então, tchau. Parece que as memórias de fato perdem as cores, transformam-se em imagens em preto e branco. Todo o amor que é seu perde-se e faz com o que o mundo passe a ser visto de forma diferente, tudo é mais escuro. Tudo sempre será. Mas isso é o que resta para mim e a música coloca isso muito bem. Um dia você será uma estrela mas de outro céu e não do meu. O meu será sempre negro pois nenhuma estrela pode ocupar seu lugar.
06. Jeremy.
Não é uma coletânea. Álbuns de estreia têm essa característica mesmo. Aqui, outra história complicada e baseada em fatos. Temos um cara que tem um lar problemático e que não consegue encontrar motivos para ir adiante. Na vida real, esse rapaz vivia em sala de detenção, chegando atrasado e vivia isolado dos demais. A escola não se posicionou para descobrir os motivos até o dia em que a professora expulsou o rapaz da sala e pediu pra ele ir buscar um bilhete na direção da escola. Ele foi e ao voltar, tinha uma arma que disparou na boca antes de qualquer aluno ou a professora reagir. Menina tem problemas desde sempre.
07. Oceans.
Essa aqui eu adoraria que complementasse Black. Basicamente o que temos aqui é uma promessa de retorno. Mesmo que eu me vá, fique na costa e resista que eu voltarei. Bem que a praia poderia trazer tudo de volta, uma vez que trouxe e levou. Captou?
08. Porch.
Faixa pesada de um bom rock and roll falando como, se o amor é de verdade, esperamos pelo outro até que ele possa deitar-se ao nosso lado. Quando isso não acontece, duvidamos até do rumo do mundo. Questionando se as escolhas foram corretas e o que deveríamos ter mudado.
09. Garden.
Faixa mais lenta para aliviar a anterior. Embora aqui seja possível ligar várias faixas. Temos ela já como estrela de outro céu e do lado de cá, a caminhada segue, de mãos atadas, com bandeiras negras tremulando e andamos no que sobrou dela: um jardim de pedras. Jardim de pedras é como os americanos chamam os cemitérios, o que indica que é o fim.
10. Deep.
Outra faixa séria e com 3 temas complicados. Primeiro temos o fazer mal à si com uma indicação de suicídio; Depois temos um assassino e por fim, provavelmente um estuprador. E nos três casos sabemos que essas pessoas atingiram o ponto mais baixo da vida e que não podem descer mais. Gosto do tempo em que os álbuns tocavam em pontos sociais e/ou políticos sem meias palavras.
11. Release.
Faixa de liberação para encerrar o álbum. No contexto do Ten, voltamos ao jovem rapaz que descobriu que o pai morreu e agora sente todo o peso disso e pede para que seja liberado desse sofrimento. Vários contextos podem ser extraídos desse exemplo. Superar a ausência, não necessariamente causada por morte, é algo difícil e raramente consegue-se isso sozinho. As vezes ver que o outro superou e vive bem sem você é o que é necessário. Outras vezes, é encontrar alguém que segure sua mão e lhe guie para um caminho melhor.