Oitava postagem: Dim days of dolor - Sirenia.
Cumprindo a promessa feita no texto 07, hoje escrevo sobre um álbum recente. E aqui escolho uma das minha bandas favoritas e que conta com um letrista que admiro desde 1997 (nossa, 20 anos), Morten Veland. Chegamos ao Dim days of dolor esperando que seja uma postagem que honre as anteriores e torcendo para o texto não ser passional (tarefa difícil). Nem sempre comento sobre as capas dos álbuns comentados mas essa merece um comentário: "Que capa nota 10". Outra coisinha antes de iniciarmos nosso passeio. Embora prefira fazer comentários sobre álbuns que eu tenho, nesse instante faço uma exceção pois ainda não recebi minha cópia do CD... droga. Observações feitas, vamos ao trabalho (ah se meu trabalho fosse esse).
01. Goddess of the sea.
Se esse é o primeiro álbum do Sirenia que ouve, acostume-se com os corais em Latim. Recorrente e é uma marca do Morten Veland em todas as suas bandas. Queria não dizer que tem mitologia mas tem sim. Banda nórdica com o nome Sirenia tinha que citar as sirenias (algo como as sereias, porém mais fortes e que surgem na mitologia grega) e essa música parte para a homenagem (ou reverência) a Ran. Vou ajudar. Ran é uma deusa que pertence à mitologia nórdica (aliás, tem um livro ótimo sobre isso, "As melhores histórias da mitologia nórdica") e é governante do mar (sirenia mesmo). Ao longo do texto veremos se é uma reverência ou é um pedido de autorização para navegar por esses mares;
02. Dim days of dolor.
Que mistura. Faixa que nomeia o álbum e que mostra um traço característico do Morten Veland - a falta de esperança em dias melhores. Gosto das ideias das letras mas algumas vezes me parece que algumas sessões de bate papo fariam bem. A música caminha para a sensação de estar perdido e sentir que a vida se esvai e não se consegue avançar por não reunir forças. Embora seja uma música animadinha no ritmo, a letra já leva para outra direção. São dias obscuros de dor;
03. The 12th hour.
Juro que o início me parece o Pink Floyd com time (já citado aqui em outros textos) só que o coral mostra que a referência estava errada. Chegamos a uma música acelerada para falar sobre as 12:00. Gosto dessa simbologia. É a última hora ou o fim do tempo para se fazer algo. Isso justificaria a velocidade da faixa. Lembra que o tempo é nosso inimigo. Tem uma citação que bateu forte aqui: "Horas passam, semanas e meses desperdiçados, ano somem e me vejo com 39 e mal estou vivo". Genial. Próxima faixa antes que o tempo acabe;
04. Treasure n' Reason.
Outra referência. Essa engraçada e também não tem nada a ver com a faixa. As menções às cores fizeram-me lembrar de um livro chamado "As sete cidades do arco íris" lá da minha infância. Nessa faixa, cada cor representa uma característica de... de... uma mulher. Sim, uma mulher. Impossível um álbum não ter uma referência à alguém que se ama. Essa é ela. Várias cores e cada uma com um traço da personalidade daquela que eu quero que seja meu amor verdadeiro. Mesmo no asfalto mais quente, ainda resta espaço para o desabrochar de uma rosa (leiam Drummond);
05. Cloud nine.
Clima de sanatório na faixa. Proposital. Seguimos na linha do tempo corrido que nos transforma em zumbis (sem consciência) e a faixa apresenta uma ótima pergunta: "Um dia acharemos a chave para voltarmos a viver?". Chama tudo que foi falado até o momento sobre o álbum, que é reflexivo e justifica sua escolha aqui nesse espaço;
06. Veil of winter.
O que causaria uma falta de esperança que faz a pessoa parar de viver? Tema recorrente nesses últimos textos (aliás, acho que em todos). A perda do amor. E então chegamos a ótimos versos onde a tristeza é relatada metaforicamente ao descrever que todas as verdades morrem um dia, que o inverno faz as lágrimas dela congelarem, que o caminho é bem curto daqui pro inferno e que a vida nada mais é do que a morte disfarçada. Confesso que ao ouvir uma faixa dessas eu penso que não vou parar de ouvir um bom metal jamais;
07. Ashes to ashes.
Faixa para a transição entre o mundo dos vivos e dos mortos. Mas a transição é colocada de forma bem direta e poética. Caminha-se para um mundo de sonhadores, deixando pra trás o mundo de descrentes e entre as flores e um campo, as portas do reino abrem-se acima de mim. E nesse lugar, dormiremos para sempre;
08. Elusive sun.
Essa faixa é muito interessante. Farei uma relação religiosa (respeitosamente) aqui. Oração de São Francisco cita que é morrendo que se vive para a vida eterna (leiam ela toda). Se tudo é mentira e a vida é apenas a morte disfarçada... a música cita que começamos a viver quando caímos (culpa do Português por não conseguir explicar esse termo 'cair' de forma mais bela);
09. Playing with fire.
Vamos brincar com fogo. Fogo que leva à purificação (letras minúsculas pra não bagunçar com meu nome hein?). Gostam de Francês? Temos uma citação aqui bem longa. A faixa segue nesse declínio mental que causa essa morte em vida. Sobre a parte em Francês...
"Mon désir se fait troublant
Jouons avec le feu
Conduis-moi au firmament
Quels qu'en soient les enjeux"
Basicamente temos:
"Meu desejo inquieta
Brincando com fogo
Guie-me ao firmamento
independente das barreiras"
Quando alguém pensa que está se dirigindo ao inferno como citado antes, de repente surgem indícios que o caminho é outro;
10. Fifth column.
Quinta coluna. Vamos lá. Títulos não surgem aleatoriamente então a expressão quinta coluna refere-se sempre a algum grupo rebelde. Aqui destoa apenas se imaginarmos que a transição entre espaços é tranquila. Vimos anteriormente que a transição deve ser feita "independente das barreiras". Então, em honra ao nome de Odin (voltamos à mitologia) devemos derrotar o inimigo (não gosto dessa referência 'inimigo' dentro de textos, fica pobre a intenção);
11. Aeon´s embrace.
Cuidado com a dualidade. Aeon podem ser entidades de luz enviadas por Deus mas também pode ser a expressão que significa eternidade. Abraçar a eternidade faz sentido e ser abraçado pelas entidades aeon também. Nessa ida aos céus na busca pela amada, o tempo expira e minhas mãos ficam frias. Vejo uma luz fraca aumentar de intensidade e vejo o fim do mundo. De repente, sinto o calor de mil sóis e te reencontro. Você é meu amor e deixar você a sós partiu meu coração. E assim encerra-se o álbum.
Resumo do álbum: Olharam a capa? O álbum transita nesse clima mórbido que muitas vezes é sem esperança mas que ao final, entende-se que a busca pelo amor vence os limites. Esse resumo mostra que ainda há esperança na música sem ficar buscando álbuns de décadas passadas. Tentarei trazer um álbum mais animado no próximo texto. Por hora, até a próxima e ouçam o álbum da semana.